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Pedro Motta

Uma nota só
23/09 - 30/10/2021

Amarelo cálido que arde em estado febril de alucinações. Vastidão da flor amarela varrida pelo mar em ouro da paisagem. Ainda que tão frágeis e por um período tão breve, flamejam na aspereza do ambiente castigado. Árvores da resistência, florestas de uma árvore só.

Uma nota só é a primeira exposição individual de Pedro Motta em Brasília. Em Ipês, o artista apresenta cerca de 40 trabalhos fotográficos (impressão de tinta mineral em papel de algodão, terra e folha de ouro, 45 x 45 cm). A série abre espaço para experimentações e reforça a proposta de Pedro de recriar paisagens por meio de manipulações digitais e aproximações com o campo escultórico.

Os Ipês são oriundos de outra série, Espaço confinado, e seguem a mesma metodologia de adição de pequenas quantidades de terra dentro da moldura, como parte da construção da imagem final. Ao serem acrescidas de terra e porções de folhas de ouro, as imagens vão além do plano bidimensional.
Pode-se pensar em uma dupla relação entre espaço e tempo, já que as fotografias foram tomadas de uma dada região e a terra retirada de outro sítio. São estabelecidos deslocamentos atemporais entre fotografia e matéria. Da união desses dois elementos, surge a fotoescultura denominada Ipê.
Como escreveu Didi-Huberman, a imagem arde. “Arde pelo desejo que a anima, pela intencionalidade que a estrutura, pela enunciação, inclusive a urgência que manifesta […]” (Didi-Huberman, 2012, p. 216).

Os ipês amarelos de Pedro Motta ardem. Ardem pela audácia de resplandecerem em uma área ambiental pulverizada, ardem como em transe, entre a lucidez e o delírio, provenientes de um tempo oculto em que a natureza não deixa de demonstrar sua força e beleza.

A obra remete ao processo de produção do artista Peter Drehe (1932-2020) que pintou mais de 5.000 quadros de um mesmo copo de água durante anos. A exposição parte dessa mesma premissa, ao mostrar uma imagem que se repete, ano após ano, em busca de uma taxonomia. Em cada curva da estrada, os ipês amarelos demarcam seus territórios, montam uma paisagem de uma só espécie, uma composição de uma nota só.

Texto de Kátia Lombardi e Pedro Motta
Início da Primavera de 2021.

OBRAS DO ARTISTA

Naufrágio Calado #4 2016

fotografia
Edição: 3
100 x 115 cm

Paisagem Suspensa 2010-2012

C-Print
Edição: 2/5
100 x 100 cm

sem título, da série Ipês. 2021

fotografia, terra e folha de ouro
Edição: 1 + PA
45 x 45

sem título, da série Natureza das coisas. 2013

fotografia
Edição: 2/3
61 x 55 cm

sem título, da série Natureza Concreta. 2008

fotografia
Edição: 2/5
78 x 53 cm

Testemunho #5 2013

fotografia
Edição: 1/3
104 x 154 cm